sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Comentário às leituras do Domingo XXIX (ano B)

Como encaro eu a autoridade, o poder, a glória? A liturgia deste XXIX Domingo comum irá ajudar-nos a perceber que seguir Jesus não pode ser só colocarmo-nos atrás d’Ele ou obedecer-Lhe até ao fim, mesmo que, por isto, devamos morrer; mas é receber a vocação de servir os homens até ao ponto de darmos por eles a vida e assim sermos associados à morte expiatória de Jesus. Seguí-l’O é participar na obra de salvação que Deus cumpre em Cristo a favor do mundo.

A Primeira leitura, da profecia de Isaías, é um dos chamados «Cânticos do Servo de Deus». Como antes, ela prepara-nos para o dom do serviço e de nós mesmos, profunda e perfeitamente encarnado em Jesus, o Cristo. O Servo de Deus é o Israel da fé, o que serve, o que dá a vida, o que oferece o verdadeiro sacrifício de expiação (dos pecados). A sua morte transformar-se-á em vida, a sua «noite» em luz…

O Evangelho de Marcos actualiza a imagem da primeira leitura: Ele é o «Servo de Deus». Importante notar que nos versículos que antecedem este trecho (32-34), Jesus anuncia pela terceira vez a sua paixão. A pergunta feita pelos filhos de Zebedeu pode, pois, comportar dois sentidos: perfeita percepção da glória de que Cristo fala o que lhes trará participação nela; pretensão de eventual privilégio, como se este lhe fosse devido por terem deixado tudo. Jesus responde: ir para a glória é possível, mas terão que passar pelo «baptismo» de Jesus e beber o seu «cálice», que o mesmo é dizer, superar dificuldades e a própria morte; mas os primeiros lugares são sinal de orgulho humano e não correspondem à gratuidade exigida pelo Pai, pelo Reino. Não foi para isso que Jesus veio. Aliás, Ele não morreu pelos seus próprios pecados, mas pelos da multidão. Servir e dar a vida pela redenção de todos é a missão dos discípulos. Interessante notar que à direita de Jesus não foram os filhos de Zebedeu que ficaram, mas sim dois ladrões!...

A segunda leitura, a Epístola aos Hebreus, apresenta o exemplo de Cristo. De facto, Ele, Filho de Deus, provado em tudo como homem, fazendo-se um de nós, foi perseverante até ao fim no serviço e no amor aos que sofrem e aos que falham. Cristo é o nosso Sumo Sacerdote, o que se oferece a si mesmo pelos nossos pecados e o que coloca à direita do Pai a nossa frágil e fraca humanidade.

O salmo manifesta a nossa esperança neste Deus e Senhor. «Ele é o nosso amparo e protector». D’Ele receberemos a misericórdia porque confiámos, porque por Ele servimos em verdade, justiça e rectidão.

P. Francisco Couto

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