sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Comentário às leituras da Solenidade de Cristo Rei (ano B)

O Senhor reina! Eis a grande afirmação deste Domingo. Quer na esperança, quer na fé, esta é a certeza da Igreja (e do próprio Israel). E só Ele é Rei! E já no hoje da história. Mas não é Rei na lógica dos homens, na lógica do domínio e da glória, mas na lógica do serviço.

A primeira leitura retirada da profecia de Daniel, relata parte da primeira visão do autor numa linguagem estritamente apocalíptica. Para entendermos os três versículos deste Domingo precisamos contextualizá-los: a visão começa com a referência às quatro bestas que surgem do grande mar: um leão, um urso, um leopardo e uma última besta não comparável a nenhum outro animal por ser demasiado horrível e espantoso. O mar significa as potências abissais e infernais. De lá surgem os quatro grandes reinos que se sucederam no mundo oprimindo o povo de Deus: Babilónia, medos, persas e império grego. Em contraste com estes reinos terrestres, surgidos do oceano, um novo reino virá, vindo do céu, do próprio Deus. Este não é semelhante a nenhum animal mas a um ser humano – Filho do Homem – e ser-lhe-á conferido todo o poder e realeza. Trata-se, sem dúvida, da prefiguração Jesus Cristo: Eis a esperança do homem!

A leitura do Apocalipse inicia com a referência à centralidade da nossa fé: Jesus Cristo é o Príncipe dos reis da terra. Príncipe, Primogénito, porque nos ama, nos salva no seu sangue – Cruz – e nos faz em si, para Deus, sacerdotes: aqueles que apresentam/oferecem a vida em favor dos irmãos. Uma vez mais, vindo do céu, por sobre as nuvens, Deus reinventará o mundo, torná-lo-á novo, a partir da «vergonha» da cruz, da oferta por amor.

O Evangelho de João faz-nos entender em que consiste o reino de Cristo. O autor fá-lo a partir de três aspectos paradoxais. Primeiro, Aquele que se diz rei, Jesus, é prisioneiro de Pilatos, representante do imperador, e diz-lhe que ele não é rei, nem está ao serviço de César, mas de Deus: o reino de Deus apresenta-se aqui sob a forma de um rei, prisioneiro de um seu súbdito! Segundo, Jesus afirma que o seu reino não é deste mundo – vergonha, mal –, mas de outro – «verdade»: Jesus, do mundo da verdade (de Deus) vem à criação de Deus (que era boa antes de se transformar em vergonha) e é «dominado» e «vencido» por este mundo de engano! Por fim, enquanto o mundo de César é expresso em termos de poder, o reino de Deus exprime-se em termos de testemunho: «vim ao mundo, a fim de dar testemunho (martyria) da verdade». A cruz será o trono do nosso Rei onde a justiça, o amor e a paz reinventarão o mundo de Deus!

P. Francisco Couto

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