quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Construtores e destruidores da sociedade

No decurso da história houve sempre dois tipos de homens: os que constroem e os que destroem. Entre os que constroem, há muitos milhões cujo esforço político, económico, ético e social tem sobressaído da monotonia, numa azáfama voluntariosa de fazer progredir o mundo e as suas gentes. Entre esses milhões estão os que criam, renovam e adaptam as estruturas jurídicas e organizativas que permitem aos homens que comam, que bebam, que se vistam, que se desenvolvam livremente, que tenham segurança social, que sejam cidadãos de pleno direito, numa palavra, que se sintam «homens» livres, iguais, fraternos, reconhecidos e amados. São os que assumem que nenhum amor autêntico o pode ser sem a dimensão social posta ao serviço de todos – a quem é necessário promover, sem paternalismos nem caridadezinha de papel de prata. São os que sabem discernir entre o mau e o bom, entre as ideologias e as doutrinas, entre os vícios e as virtudes e, de imediato, decidem pôr-se de acordo com os deveres, antes mesmo de se preocuparem com os direitos. São os que, na luta contra as deficiências e pecados sociais, aconselham, informam, norteiam. São as referências e os paradigmas, são os exemplos a seguir e a imitar. O mundo progride em todas as suas dimensões graças a tanta generosidade, a tanta abnegação, a tamanhas mortificações – tudo feito com o objectivo de tornar mais humano o mundo dos homens.

Entre os que destroem, sobressaem, logo em primeiro lugar, os que não querem que as coisas existam, nem que comecem sequer a existir. Cheios de ressentimento e de rancor, estão sempre no contra. O seu desporto é dar cabo de tudo o que funciona bem: seja na política seja na economia; no mundo profano ou no mundo sagrado. Adoram o conflito, a guerra, a destruição. O que os une é a total falta de respeito pelo trabalho dos outros, por aquilo que estes construíram com muito esforço e dedicação. Usando linguagem incisiva, varrem tudo com poucas palavras, de uma assentada. E sentem felicidade vendo os outros sofrer. (O povo diz que, com amigos destes, já nem precisamos de inimigos)! Em segundo lugar, vêm os pessimistas de profissão, os que só conseguem ler os acontecimentos a partir do azedume dos seus sentimentos e da negritude dos seus olhos. Trata-se de gente que tem não só uma visão negativa do futuro mas também uma visão negativa dos homens. A sociedade (isto é, os outros – como se eles não fizessem parte dela) é formada por pessoas avarentas, corruptas, intimamente perversas, sempre dispostas a explorar as situações em proveito próprio, pessoas esquizofrénicas em quem se não deve confiar e que não merecem ajuda. Na sociedade, todos são maus, excepto eles! (Os pessimistas espreitam a cada esquina e têm um extraordinário poder de contagiar).

A seguir, surgem os cínicos. São iguais aos anteriores, com uma diferença: actuam. Sabem que são vaidosos e adoram a adulação. Astuciosamente manipulam as paixões. As suas e as dos outros. Para alcançar as suas metas, exploram as baixezas e os vícios dos que os seguem, envolvendo-os no seu cinismo. Não pensam melhorar o mundo, até porque não acreditam nisso. O seu principal objectivo é corromper, destruir e aniquilar as pessoas com quem se cruzam na vida, não importa quem. (Os cínicos sorriem com os lábios e com os olhos, mas nunca com o coração – por isso é que são cínicos!). Mas... ainda há mais. Para completar o ramalhete, há um quarto grupo, os que sofrem de dor de cotovelo! É um grupo de pessoas que, embora dotadas de altas qualidades artísticas ou intelectuais, nada fazem para valorizar os outros: preocupam-se só consigo próprias, com o próprio êxito, com o próprio enaltecimento. Têm medo de que alguém cresça mais do que eles. Nos jovens capazes vêem rivais em potência. Sentem-se mal quando vêem os outros satisfeitos, contentes, em paz. Protestam, indignam-se, estigmatizam, mas não se expõem. Por não quererem valorizar os outros, normalmente não lhes querem reconhecer valor. Mas quando têm êxito, assentam aí a razão para desconsiderarem ainda mais quem lhes faz sombra.

P. Madureira da Silva

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