quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Educação e correcção fraterna

A sociedade é dinâmica e evolutiva, tal como deverão ser dinâmicos e evolutivos os comportamentos ético-sociais das pessoas. Mas o dinamismo e a evolução terão de obedecer, desde a sua génese e continuando nos seus procedimentos, aos princípios e às forças aperfeiçoadoras que levam os seres humanos a serem cada vez melhores, mais dignos, mais honestos e mais respeitadores. A esse processo costumamos chamar educação e as forças aperfeiçoadoras vemo-las traduzidas necessariamente em regras éticas e morais, em comportamentos cívicos, em convenções sociais, em deveres. É normal, por isso, que consideremos como anormais as atitudes que algumas pessoas, em nome da liberdade individual e dos direitos, tomam ideologicamente contra tais forças aperfeiçoadoras. Não é de admirar que, bombardeados por tais deselegâncias, quase instintivamente sejamos forçados a reagir com frases do tipo «que falta de educação»! «que estupidez»! «que mau feitio»! «que atrevimento»! E repetimos incansavelmente que é cada vez mais urgente, necessária e válida a acção pedagógica que dá pelo nome de correcção fraterna, até porque é urgente educar para a cidadania. É preciso corrigir os que erram, explicar-lhes por que erraram e incentivá-los a que mudem de atitude!

A correcção fraterna, para além de exigir muita inteligência, muita intuição psicológica e muito talento pedagógico, nunca é fácil, porque pode, naquela altura ou em momentos posteriores, acarretar desnecessárias complicações. Se o feitiço se volta contra o feiticeiro, em vez da correcção pretendida cria-se e alimenta-se um gigantesco enredo de acusações recíprocas, com gravosa e agravada troca de galhardetes. A mim ensinaram-me que, para conseguir tal correcção, é necessário reflectir. Reflectir para ver e entender melhor, e para ter a certeza de que o assunto sobre o qual recai a correcção é real e não fruto de uma impressão superficial que nos agride só porque não concordamos com ela. Também me ensinaram que se tem de olhar com a devida distância e muito friamente, sem emotividades nem irritação momentânea, para cada acto agreste e para cada atitude menos reflectida daquele a quem se quer corrigir. E que não basta intervir: é necessário fazê-lo da melhor maneira e no momento oportuno, pois todos – os que corrigem e os que são corrigidos – temos sensibilidade, coração, nervos, dignidade e direitos. Pode-se reagir mal! E a pressa é, nestes casos, o maior inimigo. E pode acontecer que se não esteja disposto a querer mudar nem a ser ajudado! O modelo da verdadeira correcção fraterna vejo-o nas famílias unidas pelo amor e pela confiança, onde ninguém se sente humilhado, abatido, envergonhado, subserviente, deprimido, desanimado ou zangado, mesmo que a correcção seja muito forte!

Nem sempre corrigir e educar se identificam. Ambos pressupõem valores éticos e cívicos, é verdade, mas corrigir remete-nos mais directamente para a exigência de mudança de atitudes, quando estas são más. Não haja, no entanto, ilusões. Se alguém julga que corrigir é meter na linha quem o anda a aborrecer ou a melindrar, está completamente errado. Corrigir é ajudar aquele que, pelas suas acções, palavras, comportamentos e atitudes, põe em risco a sua felicidade e o bem da comunidade na qual está inserido. Mesmo que me apeteça «descompor» quem me injuria, nem sequer nestas circunstâncias a correcção fraterna terá como objectivo primário o «meu» bem, a minha vingança, o meu propósito justiceiro, mas o bem da comunidade onde todos nos inserimos: eu, aquele que me injuria e os outros que constituem o mesmo núcleo de convivência. Acredito que é neste núcleo de convivência que se aplica o ditado: uma alma que se eleva, eleva todas as outras; e uma que se rebaixa, rebaixa todas as outras. Neste núcleo de convivência, todos são responsáveis por todos e todos hão-de ser sentinelas de todos. E longe há-de estar o espírito de inveja, de acusação e de vingança! E que fique bem claro: isto de querer corrigir fraternalmente os outros quando se tem os mesmos defeitos é pura hipocrisia.
P. Madureira da Silva

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