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RECOLHA HISTÓRICA DE VÁRIOS GESTOS DE RECONHECIMENTO AO PAPA PIO XII
RECOLHA HISTÓRICA DE VÁRIOS GESTOS DE RECONHECIMENTO AO PAPA PIO XII
TESTEMUNHO DA FAMÍLIA ZOLLI
No Yom Kipur de 1944, o Rabino-Mor de Roma, Israel Zolli, sabia que presidia aos serviços da sinagoga da Cidade Eterna pela última vez, pois no seu íntimo ardia já a luz da Fé, em resposta ao chamamento do Rabi da Galileia, que o queria cristão. De facto, poucos semanas depois, Israel Zolli e a sua esposa foram baptizados na Igreja Católica Romana e Zolli tomava o nome de Eugénio, em honra de Pio XII, cuja santidade e dedicação para salvar os Judeus das mãos dos Nazis, o Rabino-Mor de Roma bem conhecia e admirava profundamente.
Israel Zolli era um proeminente professor de Sagrada Escritura, com grande prestígio intelectual entre os Hebreus, e por isso em 1939 passou a ser Rabino-Mor de Roma. Quando os Nazis se preparavam para ocupar a cidade do Papa, Zolli insistiu com a comunidade Hebraica para se dispersar, porém poucos seguiram o seu conselho. Logo que os “Nazis” chegaram a Roma, Zolli que tinha a sua cabeça a prémio, pediu refúgio ao Vaticano, procurando obter do Santo Padre Pio XII, protecção para ele e para toda a comunidade Judaica. Eugénio Pacelli acolheu com autêntico Amor Cristão a família Zolli e providenciou para que se abrissem mosteiros, conventos, Igrejas Romanas, e até a própria Cidade do Vaticano, a fim de que se tornassem santuários de acolhimento para os Judeus daquela grande metrópole[1]. Quando os Nazis iniciaram os massacres contra os Judeus de Roma, conseguiram capturar 1600 Judeus dos 9500 que viviam na cidade. Os restantes estavam escondidos, sobretudo pela Igreja Católica a pedido e sob a orientação de Pio XII. Entre os que escaparam encontrava-se o Rabino Israel Zolli e a sua esposa.
O Baptismo dos Zolli, aconteceu no dia 13 de Fevereiro de 1945 e realizou-se, na Igreja Romana de Nossa Senhora dos Anjos. O facto, encheu de títulos as primeiras páginas dos jornais de então, embora alguns tivessem atribuído a sua conversão a razões de conveniência e estratégia pessoal. O próprio Zolli insistiu sempre, que a sua conversão ao cristianismo se prendia com um desejo ardente em pertencer a Jesus Cristo e que o ligou à Profissão de Fé Católica a compaixão e o espírito de unidade que viu em Pio XII. Esta experiência de Zolli, na dor e no sofrimento dos seus irmãos e na solidariedade de Pio XII conjuntamente com os católicos, levaram-no ao gesto que há muito se insinuava como desejo no seu espírito e no da sua esposa.
Pouco tempo após a sua conversão, os Zolli viajaram para os Estados Unidos da América do Norte a fim de darem uma série de conferências e lições bíblicas na Universidade de Notre Dame, em Washington DC. Aí, Zolli confidenciou ao Arcebispo Cicognani, Delegado Apostólico da Santa Sé nos E.U.A, que não foi a ciência ou a erudição que o atraíram ao Catolicismo, mas sim a compaixão e a caridade.
Apesar do drama da sua conversão, a transformação rápida do mundo no pós-guerra colocou os Zolli em desgraça económica e material. Em 1956, Zolli morreu em absoluta pobreza, porém a sua visão e a sua coragem, o seu profundo conhecimento bíblico, a sua espiritualidade penetrante e a sua Fé profunda, fizeram dele uma das grandes figuras católicas do século XX. Zolli publicou o famoso livro O Nazareno, baseado no Evangelho da S. Mateus e enriquecido pelo profundo conhecimento das línguas antigas e da cultura Semita que guardava como ex-Rabino Judeu.
P. Senra Coelho
[1] Um documento com data de Novembro de 1943, arquivado no Memorial das Religiosas Agostinianas do Mosteiro dos Santíssimos Quatro Coroados, em Roma afirma: «O Papa quer salvar os seus filhos, incluindo judeus, e ordenou que os mosteiros ofereçam hospitalidade aos perseguidos…». O documento indica também uma lista de 24 nomes, referentes aos Judeus que foram trazidas para junto das freiras de acordo com o desejo de Pio XII.
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