quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pio XII e a II Guerra Mundial

V

RECOLHA HISTÓRICA DE VÁRIOS GESTOS DE RECONHECIMENTO AO PAPA PIO XII

TESTEMUNHO DA FAMÍLIA ZOLLI

No Yom Kipur de 1944, o Rabino-Mor de Roma, Israel Zolli, sabia que presidia aos serviços da sinagoga da Cidade Eterna pela última vez, pois no seu íntimo ardia já a luz da Fé, em resposta ao chamamento do Rabi da Galileia, que o queria cristão. De facto, poucos semanas depois, Israel Zolli e a sua esposa foram baptizados na Igreja Católica Romana e Zolli tomava o nome de Eugénio, em honra de Pio XII, cuja santidade e dedicação para salvar os Judeus das mãos dos Nazis, o Rabino-Mor de Roma bem conhecia e admirava profundamente.

Israel Zolli era um proeminente professor de Sagrada Escritura, com grande prestígio intelectual entre os Hebreus, e por isso em 1939 passou a ser Rabino-Mor de Roma. Quando os Nazis se preparavam para ocupar a cidade do Papa, Zolli insistiu com a comunidade Hebraica para se dispersar, porém poucos seguiram o seu conselho. Logo que os “Nazis” chegaram a Roma, Zolli que tinha a sua cabeça a prémio, pediu refúgio ao Vaticano, procurando obter do Santo Padre Pio XII, protecção para ele e para toda a comunidade Judaica. Eugénio Pacelli acolheu com autêntico Amor Cristão a família Zolli e providenciou para que se abrissem mosteiros, conventos, Igrejas Romanas, e até a própria Cidade do Vaticano, a fim de que se tornassem santuários de acolhimento para os Judeus daquela grande metrópole[1]. Quando os Nazis iniciaram os massacres contra os Judeus de Roma, conseguiram capturar 1600 Judeus dos 9500 que viviam na cidade. Os restantes estavam escondidos, sobretudo pela Igreja Católica a pedido e sob a orientação de Pio XII. Entre os que escaparam encontrava-se o Rabino Israel Zolli e a sua esposa.

O Baptismo dos Zolli, aconteceu no dia 13 de Fevereiro de 1945 e realizou-se, na Igreja Romana de Nossa Senhora dos Anjos. O facto, encheu de títulos as primeiras páginas dos jornais de então, embora alguns tivessem atribuído a sua conversão a razões de conveniência e estratégia pessoal. O próprio Zolli insistiu sempre, que a sua conversão ao cristianismo se prendia com um desejo ardente em pertencer a Jesus Cristo e que o ligou à Profissão de Fé Católica a compaixão e o espírito de unidade que viu em Pio XII. Esta experiência de Zolli, na dor e no sofrimento dos seus irmãos e na solidariedade de Pio XII conjuntamente com os católicos, levaram-no ao gesto que há muito se insinuava como desejo no seu espírito e no da sua esposa.

Pouco tempo após a sua conversão, os Zolli viajaram para os Estados Unidos da América do Norte a fim de darem uma série de conferências e lições bíblicas na Universidade de Notre Dame, em Washington DC. Aí, Zolli confidenciou ao Arcebispo Cicognani, Delegado Apostólico da Santa Sé nos E.U.A, que não foi a ciência ou a erudição que o atraíram ao Catolicismo, mas sim a compaixão e a caridade.

Apesar do drama da sua conversão, a transformação rápida do mundo no pós-guerra colocou os Zolli em desgraça económica e material. Em 1956, Zolli morreu em absoluta pobreza, porém a sua visão e a sua coragem, o seu profundo conhecimento bíblico, a sua espiritualidade penetrante e a sua Fé profunda, fizeram dele uma das grandes figuras católicas do século XX. Zolli publicou o famoso livro O Nazareno, baseado no Evangelho da S. Mateus e enriquecido pelo profundo conhecimento das línguas antigas e da cultura Semita que guardava como ex-Rabino Judeu.

P. Senra Coelho

[1] Um documento com data de Novembro de 1943, arquivado no Memorial das Religiosas Agostinianas do Mosteiro dos Santíssimos Quatro Coroados, em Roma afirma: «O Papa quer salvar os seus filhos, incluindo judeus, e ordenou que os mosteiros ofereçam hospitalidade aos perseguidos…». O documento indica também uma lista de 24 nomes, referentes aos Judeus que foram trazidas para junto das freiras de acordo com o desejo de Pio XII.

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