terça-feira, 2 de março de 2010

“Epistula” Barnabae: a herança do judeo-cristianismo.

3- Resumo doutrinal (cont.)

O Oitavo Dia:
Um outro aspecto interessante da teologia de Barn é o que diz respeito ao capítulo XV, onde insiste na celebração do oitavo dia da semana, ou seja, o domingo – dia do Senhor- em vez do sábado dos judeus, por ser o dia da ressurreição de Cristo: “Vede como ele diz: não são os vossos sábados que me agradam, mas aquele que eu fiz e no qual, depois de ter feito repousar todas as coisas, farei o início do oitavo dia, isto é, o começo de outro mundo. Eis por que celebramos com alegria o oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus” (XV,8-9).

Este testemunho é, de facto, particularmente significativo, pois comprova a força da tradição apostólica na celebração do Dia do Senhor, enquanto memorial e actualização do mistério da ressurreição.

Ideias milenaristas: é precisamente no contexto da questão sobre o sábado que o autor demonstra as suas ideias milenaristas. Eis as afirmações: “Ainda, sobre o sábado, está escrito no Decálogo que Deus o entregou pessoalmente a Moisés no monte Sinai: "Santificai o sábado do Senhor com mãos puras e coração puro." Noutro lugar, diz: "Se os meus filhos guardarem o sábado, então estenderei sobre eles a minha misericórdia." Ele menciona o sábado no princípio da criação: "Em seis dias, Deus fez as obras de suas mãos e terminou-as no sétimo dia, e nele descansou e o santificou." Prestai atenção, filhos, sobre o que significa: "terminou no sétimo dia". Isso significa que o Senhor consumará o universo em seis mil anos, pois um dia para ele significa mil anos. Ele próprio o atesta, dizendo: "Eis que um dia do Senhor será como mil anos." Portanto, filhos, em "seis dias", que são seis mil anos, o universo será consumado. "E ele descansou no sétimo dia." Isso quer dizer que o seu Filho, quando vier para pôr fim ao tempo do Iníquo, para julgar os ímpios e mudar o sol, a lua e as estrelas, então ele, de facto, repousará no sétimo dia. Por fim, ele diz: "Tu o santificarás com mãos puras e coração puro." Contudo, se alguém actualmente pudesse santificar, de coração puro, esse dia que Deus santificou, então nós ter-nos-íamos enganado completamente. Porém, se este agora não é o caso, ele o santificará verdadeiramente no repouso, quando nós formos capazes disso, isto é, quando tivermos sido justificados e tivermos recebido o objecto da promessa, quando não houver mais iniquidade, e o Senhor tiver renovado tudo. Então, poderemos santificá-lo, tendo sido primeiro nós mesmos santificados (XV,1-7).

Ora, esse sábado é para Barn o milénio que medeia entre a segunda vinda de Cristo, para acabar com o tempo do Iníquo (=Demónio), e a vida eterna, como começo de um mundo novo. Não é, pois, o sábado, mas sim o oitavo dia (domingo), aquele que prefigura efectivamente a vida eterna.
Drª. Teresa Pereira

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