quarta-feira, 12 de maio de 2010

Foi assim que Jacinta amou a Igreja

Nosso Senhor Jesus Cristo confiou a um grupo de “doze” a Sua missão salvifica: “Foi-me dado todo o poder no céu e na Terra. Ide, portanto, fazer discípulos todos os povos, baptizando-os… ensinando-os… Eu vou permanecer convosco até à consumação dos tempos.” (Mt. 28, 18-20). São estes “doze” e os seus sucessores quem, pode dar a suprema garantia da fidelidade da Igreja ao Espírito do Seu Fundador – daí que a unidade da Igreja, assim como a catolicidade tenham de entroncar na apostolicidde. Com efeito, a Igreja não é una se não estiver em consonância com a Igreja apostólica; a Igreja não é católica se não for idêntica àquela que nasceu de Jesus Cristo com os “Doze”. A apostolicidade é, por assim dizer, o fundamento das outras propriedades da Igreja de Cristo.

Apostolo é aquele que viveu com Cristo desde o Baptismo de João e que pode dar testemunho da Sua Ressurreição (Cf. Act. 1, 21-22); é aquele que recebeu directamente de Cristo uma missão particular por força da qual há-de anunciar o Evangelho com autoridade; é um dos “doze” que Jesus escolheu directamente, ou alguém que a eles seja agregado, por indigitação do Espírito Santo.

Dizer que a Igreja é “apostólica” significa afirmar que a Igreja de Jesus Cristo é aquela que parte desses “doze”. O que Cristo disse e fez chegou-nos pela via apostólica. Sem os Apóstolos não teríamos Igreja nem saberíamos nada do seu Fundador. Mesmo depois do desaparecimento terreno dos “Doze a Igreja continua a ser apostólica em virtude do Espírito que assiste e nela suscita outros homens que perpetuam, na fidelidade às origens, a missão dos apóstolos.

A apostolicidade não se esgota no facto de a Igreja ter sido fundada sobre os apóstolos. A apostolicidade inclui, além disso, a fidelidade à doutrina de Cristo que os apóstolos nos transmitem. Essa fidelidade é garantida pela sucessão ininterrupta dos “Doze” na Igreja de Jesus. É, portanto, na sucessão apostólica ininterrupta que se há-de encontrar a ligação da Igreja de qualquer tempo à Igreja d primeiro tempo. É na sucessão apostólica que se há-de, em última análise, descobrir a raiz da Igreja verdadeira. A Igreja verdadeira será, portanto, aquela que se encontra na tradição, ligada aos “Doze” pela doutrina e pela sucessão.

Foi em Jerusalém e na Samaria que se formou a primeira comunidade dos crentes em Jesus de Nazaré, o Messias e o Filho de Deus. Durante os quarenta dias que comungou frequentemente com os seus discípulos, no seu estado de ressuscitado, Jesus deixou aos seus fiéis as instruções necessárias para a edificação do Reino de Deus por Ele anunciado, ordenando-lhes que permanecessem na Cidade Santa de Jerusalém até que descesse o «Paráclito» (Jo. 14, 1). Com a sua inspiração e sustentados pelo Espírito Santo tornar-se-iam suas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da Terra (At. 1, 8).

No décimo dia, após a Ascensão, na festa hebraica chamada Pentecostes (2Mac. 12, 32) cumpriu-se a vinda do «Prometido pelo Pai», depois que, sob proposta de Pedro, com a eleição de Matias para o lugar de Judas, o traidor, estava de novo completo o colégio dos “Doze”. Pedro aparece como cabeça do colégio dos “Doze” e guia da comunidade primitiva, anunciando corajosamente diante do povo, Jesus como Senhor crucificado, ressuscitado e subido ao céu.

Com a primeira festa do Pentecostes começa a verdadeira história da Igreja cristã. Naquele momento a Igreja foi proclamada solenemente e diante do mundo inteiro, ali representado pela pluralidade das línguas, como o novo Reino messiânico universal, independente da Sinagoga e sustentado pelo «Espírito da verdade» que o sustentará até ao fim dos tempos (Jo. 14, 17).

Foi esta Igreja que Jesus fundou sobre os Apóstolos que a Beata Jacinta Marto amou na sua simplicidade de criança. Ela viveu a sua experiência eclesial no contexto da sua paróquia e num tempo marcado por três grandes “devoções” populares: A Eucaristia, Nossa Senhora e o Papa.

Na vida dos videntes foi muito importante a vivência da Fé no seio de suas famílias que lhe transmitiram a primeira consciência de Fé, nomeadamente na devoção da reza diária do terço, que na sua inocência elas procuravam cumprir de modo quotidiano e com rapidez, como obrigação assumida em obediência a seus pais.

O amor à Igreja percebe-se na vida da Jacinta pela sua especial devoção ao Papa, na ocasião Bento XV (1914-1922) que sofreu todas as vicissitudes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a depressão económica de 1919 e a revolução Bolchevique da Rússia iniciada em 1917. Jacinta Marto recebeu o especial carisma de rezar pelo Papa, que ela viu em grande sofrimento em contexto de violência, guerra e perseguição.

A oração reparadora que Jacinta Marto fazia conjuntamente com sacrifícios pela conversão dos pecadores tinha como intenção trazer à Igreja de Cristo todos aqueles que a tinham abandonado, ou nela viviam, mas como vidas duplas. A oração e os sacrifícios oferecidos pela conversão dos pecadores são urgentes sobretudo num tempo em que se proclamava o ateísmo militante e estatal, sobretudo na Rússia se fazia sentir na questão religiosa e anti-clerical que a Primeira República suscitou em Portugal.

Jacinta Marto amou a Igreja no contexto e na espiritualidade do seu tempo e percebeu que Nossa Senhora lhe pedia um grande amor ao Papa e aos pecadores, exprimindo nestas duas devoções a Misericórdia de Cristo Bom Pastor.

Ela percebeu como Santo Agostinho que não é possível chamar a Deus por Pai, se não tivermos a Igreja por Mãe e com o Cura d’Ars que quando se quer destruir a religião se começa por atacar os Padres e sobretudo o Papa.
P. Senra Coelho

Sem comentários:

Enviar um comentário