PARTE II
As aparições, como sabemos, aconteceram no ano de 1917, em plena Primeira Guerra Mundial (1914-18), porém, a Irmã Lúcia faz referencias a uma outra guerra, que haveria de acontecer e que historicamente identificamos com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Citamos na íntegra o relato da Lúcia:
«Um dia fui a sua casa, para estar um pouco com ela. Encontrei-a sentada na cama, muito pensativa.
- Jacinta, que estás a pensar?
- Na guerra que há-de vir. Há-de morrer tanta gente! E vai quase toda para o inferno! Hão-de ser arrasadas muitas casas e mortos muitos Padres. Olha: eu vou para o Céu. E tu, quando vires, de noite, essa luz que aquela Senhora disse que vem antes, foge para lá também!
- Não vês que para o Céu não se pode fugir?»
Foi o Papa Pio XI quem protagonizou de modo directo com a fermentação da Segunda Guerra Mundial iniciada há 70 anos, através das suas diversas tentativas de diálogo com os regimes totalitaristas.
O grande dilema com que se enfrentava Pio XI frente aos Estados com legislação, ou práticas hostis à Igreja, era a ausência de meios suficientes e eficazes para intervir nestas situações e a dificuldade ou impossibilidade de calcular as consequências e as implicações secundárias que poderiam derivar para Igreja na sua dimensão universal. Este dilema colocava-se com particular ênfase em relação aos sistemas totalitários da Rússia dominada pelos bolcheviques e da Alemanha nacional socialista. Entendemos por «totalitarismo» a pretensão de dispor sem limites e com absoluta exclusividade da totalidade da existência humana, até ao substrato da própria consciência.
No Vaticano, nunca tinha havido dúvidas sobre as delimitações eclesiásticas na relação com o comunismo, totalitário na sua essência, ainda que não se utilizasse o termo “comunismo”. Se, entre 1921 e 1927 a Santa Sé anunciou que poderia estabelecer relações diplomáticas com a União Soviética, esta atitude pode explicar-se à luz dos princípios posteriormente explicados por Pio XI a 14 de Março de 1929, com a seguinte afirmação: “Quando se tratar de salvar, ainda que seja uma única alma, ou de impedir maiores danos para as almas, nós teremos a coragem suficiente para tratar com o Diabo em pessoa”.
P. Senra Coelho
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