Muitas conversas travadas entre cidadãos anónimos têm como pano de fundo este assunto, o atendimento. Não é que este tenha de ser sempre personalizado. Mas deve ser sempre carinhoso e respeitador. Não deve haver ninguém que não tenha sido vítima e, consequentemente, não tenha algumas queixas a fazer sobre o modo como foi recebido ou atendido numa qualquer repartição pública a que teve de recorrer para tratar dos seus assuntos. Verdade se diga que a maior parte das vezes o atendimento é bom; mas há muitas ocasiões e repetidos casos sintomáticos do que acaba de ser dito. Talvez as queixas frisem aconchegos políticos duvidosos, talvez refiram atendimentos desumanos e morosos, talvez extravasem simplesmente uma reacção às inúmeras faltas de civismo que as palavras e os gestos de alguns funcionários deixaram transparecer. Tudo isto cria uma vontade irreprimível de comentar, criticar, murmurar... e, como quem conta um conto lhe aumenta um ponto, a consequência lógica é que tudo o que nos desagrada também se detesta. E, detestada a situação, também de detesta o funcionário que a provocou! Os maus humores alheios podem influenciar desajeitadamente os nossos estados de alma. Naturalmente, tudo nos convida a carregar de tintas negras o quadro do ambiente então criado. E com razão!
Extravasando o âmbito destas observações, relevo as inúmeras situações bem mais inquietantes em que o mal tem o mesmo tratamento que o bem, que o bom, que o normal. Faz-se a apologia da transparência, mas poucos a vivem. Fala-se de honradez, rectidão de vida, franqueza, honestidade, autenticidade, mas vive-se da fraude, da máscara, do cinismo, da mentira. Assistimos ao despudorado sincretismo de valores e anti-valores numa sociedade cada dia mais hipócrita, que tenta ocultar a sua queda moral, que crê no mito escravizante do progresso e amplia a angústia em que vivem milhões de seres humanos. Estamos a ser invadidos por uma lufada de «anormalidades» consideradas «normais». Alguns Meios de Comunicação Social escancaram em praça pública o que há de mais extravagante, emaranhado, obscuro e desequilibrado no fundo da alma. O recôndito da alma é trazido para a praça pública; os sentimentos genuínos têm um tratamento desumano. Quase nos obrigam a acreditar que o nosso lugar na sociedade tem de ser de total concordância. Perante o mal, quase somos «obrigados» a ser concordes e tolerantes. Perante o bem, quase somos «obrigados» a ser ingénuos ou invejosos e ressentidos. Estou convencido de que a mentalidade actual é passível de ser caracterizada pela mesma avaliação patenteada na história de «o Rei vai nu» – conhecem essa história?
P. Madureira da Silva
Não é por acaso que se diz que « as crianças são o melhor do mundo»! Elas é que sabem!
ResponderEliminarSem medos, sem preconceitos, sem falsas modéstias, elas falam apenas...verdades!
Que bom seria podermos conservar o nosso mais bonito retrato de infância!